O primeiro centro de estudos dedicado ao
grafeno no país vai reunir em São Paulo pesquisadores com experiência
reconhecida internacionalmente nesse campo. A Universidade Presbiteriana Mackenzie inaugura em julho de 2014 seu
Centro de Pesquisas Avançadas em Grafeno, Nanomateriais e Nanotecnologia
(MackGraphe), que terá investimentos de R$ 20 milhões apenas na construção do
prédio de 4.230 metros quadrados para abrigar laboratórios no bairro da
Consolação, centro de São Paulo. Lá serão conduzidas as pesquisas do projeto
temático Grafeno: fotônica e optoeletrônica, uma parceria entre a Universidade
Mackenzie e o Centro de Pesquisa de Grafeno da Universidade Nacional de Cingapura, que recebe investimento de R$ 9,8 milhões da FAPESP.
O projeto, que teve início
em abril deste ano, faz parte do programa São Paulo Excellence Chairs (Spec) da
Fundação, que busca estabelecer colaborações entre instituições do estado de
São Paulo e pesquisadores de alto nível que trabalham fora do país. Nesse
programa, o pesquisador segue vinculado a sua instituição de origem e se
compromete a coordenar o projeto e a permanecer no Brasil durante pelo menos 12
semanas ao longo de cada um dos cinco anos mínimos de sua duração. Nesse
período, ele colabora com pesquisadores da instituição anfitriã na orientação
de um grupo de bolsistas da FAPESP, entre pós-doutores, doutores e alunos de
iniciação científica. O programa Spec do grafeno é coordenado pelo físico
brasileiro Antonio Hélio de Castro Neto, professor da Universidade de Boston,
nos Estados Unidos, e diretor do centro de Cingapura desde 2010.
Além de discussões quase
diárias com os pesquisadores do MackGraphe que se encontram em Cingapura,
Castro Neto está em contato semanal com pesquisadores daqui, por meio da
internet, com o objetivo de acompanhar o cotidiano da evolução do projeto.
Entre os objetivos da
iniciativa estão a realização da síntese artificial do grafeno, a
caracterização do material produzido e a construção de dispositivos
optoeletrônicos aplicáveis no setor de comunicações ópticas. “Esperamos que num
futuro não muito distante o MackGraphe lidere a pesquisa na área de
optoeletrônica do grafeno”, diz Castro Neto, que desde 1991 está nos Estados
Unidos, onde fez o doutorado em física na Universidade de Illinois e o
pós-doutorado no Instituto de Física Teórica, em Santa Bárbara. Castro Neto foi
fundamental para que o MackGraphe saísse do papel. O físico Eunézio Antônio
Thoroh de Souza, professor da Universidade Mackenzie e responsável pelo centro,
apresentou-o ao reitor da universidade, o engenheiro Benedito Guimarães Aguiar
Neto, durante uma viagem à Cingapura. Do encontro, surgiu a ideia de criar no
Brasil um centro irmão daquele coordenado pelo professor Castro Neto.
As pesquisas são feitas
provisoriamente em laboratórios de física e engenharia da Universidade
Mackenzie, com amostras de grafeno cedidas pela equipe de Castro Neto. Quando o
prédio do MackGraphe estiver pronto, os pesquisadores poderão produzir o
grafeno – um material flexível, impermeável, extremamente resistente e capaz de
conduzir 100 vezes mais eletricidade do que o cobre. Ele foi isolado pela
primeira vez em 2004, o que deu aos pesquisadores russos Andre Geim e
Konstantin Novoselov, da Universidade de Manchester, o Prêmio Nobel de Física
em 2010.
O reitor Aguiar Neto
ressalta a importância estratégica do grafeno. “O país perdeu a corrida do
silício, a principal matéria-prima para a fabricação de chips e outros
componentes da indústria eletrônica”, diz. “Queremos aproveitar o momento do
grafeno.” Ele conta que uma das parcerias mais promissoras é a que será firmada
com a Texas Tech University, nos Estados Unidos, onde é desenvolvida uma nova
técnica de esfoliação – procedimento pelo qual se obtém grafeno a partir do
grafite.
O material é apontado como
estratégico para o desenvolvimento de uma nova era da eletrônica, que poderá
levar ao surgimento de computadores quânticos, menores e mais rápidos. Ele
também tem potencial para ser aplicado na construção de dispositivos de cristal
líquido, com eletrodos feitos de grafeno, que poderão ser usados na fabricação
de TVs e monitores para computadores. “Nosso foco tem sido estabelecer
colaborações nacionais e internacionais”, conta Thoroh. Isso inclui o
intercâmbio de cientistas e estudantes. “Temos dois pesquisadores em Cingapura,
e dois deles aqui nos visitando”, diz Thoroh, citando também dois pós-docs
mexicanos, dois indianos e um aluno de doutorado da Colômbia que passam
temporadas no Brasil.
Os físicos Andre Geim e
Konstantin Novoselov obtiveram o grafeno por meio de esfoliação, ao utilizarem
uma fita adesiva e uma placa de grafite, o mesmo material usado em lápis. Desse
processo, os russos conseguiram produzir uma folha cristalina de átomos de
carbono organizados em rede, em forma hexagonal, com apenas um átomo de
espessura.
Embora o processo seja bem
conhecido, sua aplicação não permite a produção do grafeno em grandes
quantidades.
O método que vem sendo
testado para produzir o grafeno em escala industrial é o CVD (chemical vapor
deposition), que no Brasil é desenvolvido pela Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). “Com essa técnica, conseguimos produzir um vapor de átomos de
carbono que, quando depositados sobre um substrato de cobre, formam uma
película de grafeno em cima do cobre”, explica o físico Marcos Pimenta,
professor da UFMG e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia
(INCT) em Nanomateriais de Carbono.
O MackGraphe tem interesse
em desenvolver esse processo e, por isso, Pimenta foi convidado a fazer parte do
projeto. “O professor Marcos Pimenta iniciou a pesquisa em nanocarbonos no país
há 15 anos. Não se pode falar de nanotubos, que na verdade é o grafeno enrolado
na forma de cilindro, sem citar a UFMG”, diz Thoroh. A FAPESP concedeu uma
bolsa para Pimenta trabalhar ao longo do segundo semestre de 2013 como
professor visitante na Universidade Mackenzie, para ministrar cursos de
capacitação e também ajudar na organização do novo centro de pesquisa. A
fundação também financiou a compra do espectrômetro Raman, um equipamento
alemão de R$ 700 mil, indispensável para pesquisar as propriedades eletrônicas
do grafeno.
“O MackGraphe é só o começo.
Se o país quer mesmo ser líder mundial, precisa investir pesado, como fizeram
os europeus, e estabelecer uma política de longo prazo para essa tecnologia”,
reforça Castro Neto. Para Pimenta, o fato de o país contar com pessoal
qualificado, que já vinha trabalhando com nanotubos, habilita o Brasil a
participar da corrida tecnológica na área. “Estamos conseguindo acompanhar as
evoluções em relação ao grafeno desde a sua descoberta. Temos já uma inserção
internacional nesse campo de pesquisa”, salienta o pesquisador.
(Fonte:
http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/12/18/o-grafeno-e-seus-desafios/)
Agora sim, com pessoas e instituições certas, o Brasil poderá
ResponderExcluirdesenvolver tecnologias relevantes relacionadas ao grafeno, e não
somente publicar artigos científicos a respeito.