“Sabemos que nem sempre o melhor time ganha”, diz o físico Roberto da Silva, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “No futebol há um grau de aleatoriedade muito alto.” Com a ajuda de colegas da UFRGS, Silva criou um modelo computacional que gera campeonatos virtuais com propriedades estatísticas idênticas àquelas das pontuações de campeonatos nacionais disputados por pontos corridos, como o brasileiro, o espanhol e o italiano. Seus resultados, publicados este ano na Computer Physics Communications e na Physical Review E, sugerem que as diferenças entre as habilidades dos times são importantes, mas que o que domina a dinâmica do futebol é mesmo a aleatoriedade, a tal "caixinha de surpresas".
Não funcionou muito bem. Silva notou que a diferença entre as pontuações dos times tendia a aumentar mais rápido do que o projetado pelo modelo de difusão simples. Na verdade, a evolução dos pontos tinha as características daquilo que os físicos conhecem como superdifusão. Era o sinal de que a premissa do modelo simples, de que o desempenho dos times permanecia constante ao longo do campeonato, não se ajustava à realidade. “A superdifusão acontece quando as probabilidades de ganhar e perder se alteram ao longo do tempo”, explica. “Os times mudam: jogadores se machucam, novos jogadores são contratados e técnicos são demitidos.”
Num domingo, jogando videogame com o filho de 8 anos, Silva pensou em um modo de incorporar essas mudanças ao seu modelo. Como em um videogame de futebol, os times do modelo de Silva agora teriam um número que mediria a habilidade do grupo, ou seja, o seu potencial de ganhar uma partida. Os resultados dos jogos continuavam a ser decididos aleatoriamente, mas a probabilidade de uma equipe ganhar ou perder passou a depender dos potenciais de ambos os times. Assim, o vencedor de uma partida aumentava seu potencial, enquanto o do perdedor diminuía. No empate, os potenciais dos times permaneciam constantes.
Com esse ajuste, o modelo funcionou melhor. Simulou com precisão a estatística acumulada de cinco campeonatos seguidos, mas apenas para o caso brasileiro. A pontuação dos torneios virtuais não batia com as dos campeonatos europeus, em especial do espanhol e do italiano.
Não foi difícil achar a explicação. O modelo assumia que todos os times começavam o campeonato com o mesmo potencial de vencer os jogos. Desde 2003, seis times já conquistaram o Brasileirão. Apesar de sempre haver favoritos, nenhum time nacional se destaca dos outros por muito tempo, por causa da habitual venda de craques para o exterior. Na Espanha é diferente. Os dois melhores times – Barcelona e Real Madrid – têm uma média de gols por partida muito superior à das demais equipes e quase sempre Real Madrid ou Barça é campeão. O mesmo acontece na Itália, com Juventus, Milan e Internazionale. O modelo só funcionou para todos os países quando Silva incluiu essa diferença inicial, ajustando os potenciais dos times a partir da média de gols por partida de cada equipe no campeonato anterior.
O físico Haroldo Ribeiro, da Universidade Estadual de Maringá, também vem observando a superdifusão em suas análises de partidas de futebol, críquete e xadrez. “Ainda há muito o que investigar”, diz. “Podemos responder questões que os fãs dos esportes se perguntam ou justificar afirmações que muitas vezes eles fazem sem base científica.”
Leia mais em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/10/17/por-que-as-zebras-sao-comuns-no-brasileirao/
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