O maior projeto da história da
ciência brasileira está prestes a sair do papel. Com
um anel de mais de 500 metros de circunferência, instalado num prédio de 250
metros de diâmetro – do tamanho de um estádio de futebol – o novo acelerador de partículas do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas, será
cinco vezes maior e muito mais avançada do que o atual, que será desmontado.
O custo total do projeto, batizado como
Sirius (nome da estrela mais brilhante no céu), é estimado em R$ 650 milhões,
com o primeiro feixe de luz previsto para 2016. Outro grande projeto federal,
do Reator Multipropósito Brasileiro, a ser construído em Iperó (também no
interior paulista), tem um orçamento maior, de R$ 850 milhões, mas sua missão
principal será a produção de radioisótopos para uso médico e industrial, e não
a produção de ciência. “Se você pensar numa infraestrutura dedicada
exclusivamente à pesquisa, o Sirius certamente é o maior”, diz o físico Antonio
José Roque da Silva, diretor do LNLS.
A expectativa na comunidade científica é
igualmente grande. A luz síncrotron (uma radiação eletromagnética de amplo
espectro, que abrange desde o infravermelho até os raios X) é usada em várias
áreas de pesquisa, como física, química, biologia, geologia, nanotecnologia,
engenharia de materiais e até paleontologia. O acelerador funciona como um
gigantesco microscópio, que os cientistas utilizam para enxergar a estrutura
atômica e molecular de diferentes materiais, iluminando-os com os diferentes
tipos de radiação presentes na luz síncrotron. Pode ser uma rocha, uma
proteína, uma amostra de solo, um dente de dinossauro, um cabo de aço usado em
plataformas de petróleo, um fio de cabelo tratado com diferentes tipos de
xampu, ou qualquer outra coisa que se queira conhecer nos mínimos detalhes.
“É o sonho de entender materiais, tanto do
ponto de vista estrutural quanto funcional”, afirma Roque. Com a luz
síncrotron, é possível saber, por exemplo, que tipos de átomos e moléculas
fazem parte de um material, qual é a distância entre eles, como eles interagem
entre si, quais são suas propriedades magnéticas e várias outras coisas. São
“olhos microscópicos”, nas palavras do diretor científico do LNLS, o brasileiro
Harry Westfahl.